domingo, 17 de maio de 2015

Somos bicampeões carago!


 Nem o bruxo de Fafe nos impediu, ganhámos, porra! Quem se importa com o défice ou com a falta de futuro? Isso é p’ra amanhã porque o “bem podias fazer hoje” só fica bem na letra do Variações. Assim vamos indo, pobretes, mas alegretes como sempre fomos e seremos. É que já não há remédio!
Somos o país das paixões e da fé, das festas e jantaradas- nem que depois não haja para o resto do mês- mas enquanto há festa há romaria, cantes e cançonetas e ajuntamentos que se farta; que importa o amanhã se hoje há bebedeira na certa? Lá vamos rezando a Nossa Senhora de Fátima o terço, lá vamos arrastando os joelhos mortificados pela fé e lá vamos festejando o futebol- já me parece só faltar aqui o fado…
Que importa sermos sempre os últimos naquilo que importa? Da justiça à educação, da saúde- não somos os mais obesos, os reis das patologias mentais, os que mais morrem do coração? -  PIB- “Qué, qué isso?”- que importa agora a dívida? Essa fica para os netos e bisnetos. Que importa não haver futuro? O aqui e agora é este. E o futebol manda mais que a barriga cheia… Que importam velhos abandonados e doentes? Que importam crianças sem teto ou comida? Que importa continuarmos a ser agora aquilo que sempre fomos: dos mais pobres da Europa?
Mas, que tem? É preciso esquecer as desgraças, ter fé que tudo se compõe  virá, talvez, um D. Sebastião que nos salve. Ámen! Ámen!
Que importam filas nos hospitais? Os salafrários no poleiro? Que importa isso agora? Somos bi, somos bicampeões, carago!
Amanhã acordamos todos outra vez… lá está o país, a falta de emprego : do jovem, adulto e idoso, a falta de carcanhol- quem olhasse para o estádio não o diria- a  falta de combustível que hoje é gasto para dar a volta às rotundas, lá estão os velhos- um pouco mais velhos ainda, mais tristes também- lá estão os antidepressivos para nos esquecermos que somos tristes, pobres e que pouco ou nada fazemos para alterar coisa alguma. Somos assim. Sempre assim fomos e seremos:  é nossa sina e destino, a música pimba ao domingo, a festa, a farra, a chouriça e o tintol,  os impropérios contra quem governa e por fim , o conformismo com isto tudo porque está-nos no sangue. Já nascemos assim.
Que tenho contra a festa, o futebol, a alegria? Nada minha gente! Só gostava que estivessem onde deveriam estar. Que envolvessem menos gente e energia, menos paixão e euforia do que as lutas que verdadeiramente importam e que nos fariam sair deste triste fado. Só isso.

Agora viva! Somos bicampeões, carago!

Maria João Varela


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